quem fuma por aí

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Jisas!!

I'm so fucking depressed!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

II.

E mais uma vez nos partem o coração. Quando ele, com alguma suspeita de que não há mal que sempre dure se atreve a encher-se de novo, a empolar-se de vivo vermelho, a bombear sangue novo e oxigenado de qualquer coisa que se assemelha a felicidade e a esperança. Desta vez quebram-nos o coração vermelho vivo com facadas, com duros golpes de porrada, com humilhações e toadas negras. Riscam qualquer possibilidade de voltarmos a sentir coisas boas – é mentira, mas agora é tão verdade! -, acabam connosco e deixam no nosso lugar um esboço de nós, mas vazio de quase tudo. Um esboço riscado a carvão de desespero e solidão.

I.

Quantas vezes nos podem partir coração? Quantas vezes pode o nosso coração ser dolorosamente, definitivamente, irreversivelmente, irremediavelmente partido? Qual é o limite de sofrimento de cada um? E haverá um ponto em que desistimos de lutar? Em que aceitamos sobreviver com o mínimo e o razoável passa a ser uma forma de vida? Ou é nesse ponto que decidimos acabar com tudo? Ou terá o ser humano um tal instinto de sobrevivência que insiste em resistir, mesmo abaixo do razoável, do aceitável, do decente, do humano, do psicologicamente tolerável.
Quanta pancada uma pessoa tem de levar? De todos os lados? Aprendemos assim?
Ao colocarmo-nos fora da nossa própria vida, vendo-a com olhar alheio, exercício que recomendo várias vezes aos outros mas que comigo nunca funciona, talvez por este meu pessimismo terrível, esta dor, esta sensação horrível de solidão que me acompanham desde sempre; ao colocar-me fora da minha própria vida ela não me parece terrível.

Durante dois anos desejei todas as noites, com a maior das poucas forças que tinha não acordar no dia seguinte. Sabia que nada de bom me esperava. Há uns segundos, ou menos do que isso, uns pequenos momentos de inconsciência quando acordamos, em que estamos entre o sono e a vigília, entre a simples existência física e a noção de nós próprios, que eram o único momento pacífico dos meus dias. Depois, em menos de nada, vinha-me a consciência da minha realidade, da minha existência – que tal como disse, vista de fora, regida pelo quotidiano nada tinha de terrível – e a raiva de ter acordado. De estar viva. De haver tanta gente no mundo a morrer não querendo e eu, que queria…

Ao apanhar o metro todos os dias confrontava-me com a minha incompetência e cobardia. Sempre achei o suicídio um acto de coragem. Não é cobardia acabar com um sofrimento que sentimos como intolerável. É um acto de misericórdia para connosco. Como quando matamos um bicho que está a sofrer. Não há nada de corajoso em viver deprimido numa cama, em viver deprimido a repetir comportamentos destrutivos a lixar a vida aos que gostam de nós. Não há nada de corajoso em destruir a nossa vida todos os dias, um bocadinho mais, porque somos tão miseráveis que não nos podemos dar ao luxo de gostar de nós próprios.
Portanto, sempre que apanhava o metro, confrontava-me com a minha falta de coragem para me atirar para debaixo dele. Sentia-me ridícula por talvez me agarrar a qualquer resto de esperança, quando todos os dias a seguir aos outros me mostravam que não havia motivos para tal. E medo. Medo de quê? Da dor? Seria maior do qualquer uma que tivesse sentido até aí? Portanto, todos os dias, na linha verde, estava a pessoa mais pequenina, mais ridícula, mais patética, mais magoada no seu ego, a apanhar o metro para a Baixa-Chiado.